quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Uma visão feminina na cena underground

Integrante do coletivo "Madalenas Assumidas" conta as
suas experiências na cena underground
 A entrevistada da vez é a jornalista e produtora de rádio Ananda Oliveira, a Nanda, poaense de 23 anos. Ela fundou com mais duas amigas um coletivo voltado para as lutas femininas, Madalenas Assumidas. Além disso, ainda faz parte de um grupo de dança cigana, gosta de cozinhar, ouvir música, ler e, ainda, tem tempo para participar de encontros de filosofia. Ufa! Com tanta bagagem, certamente Ananda tem boas histórias para nos contar. É ler e tirar suas conclusões. Deleite-se! Ela participou da seção Com a Palavra da primeira edição impressa do zine Polaroid.

Polaroid - Como você conheceu a cena independente? Depois de inserida nesse "mundo", sua visão, senso crítico mudaram? 
Ananda – Sempre curti bandas, fanzines, HQ's e outras iniciativas independentes desde a adolescência. Agora falando de Mogi das Cruzes, comecei a ter contato com iniciativas como o Selo sem Sê-lo, Suburbaque entre outros, através de amigos que participavam. Foi na época em que comecei a cursar Jornalismo na Braz Cubas, e junto a amigos, frequentar o Campus VI. Na verdade nunca tive uma participação muito ativa nesses movimentos além de comparecer aos eventos e prestigiá-los. Acho que o ímpeto de fazer alguma coisa começou mais de uns tempos pra cá. Agora falando de senso crítico, não percebi grandes mudanças porque o meu senso crítico sempre foi bastante aguçado (risos). Talvez, com o passar do tempo isso tenha sido potencializado apenas. A visão de mundo continua predominantemente insatisfatória. Em contrapartida, ver gente por aí cheia de energia pra fazer as coisas, fugir da mesmice e se esforçando para transformar as coisas sempre anima. É bacana poder ver a galera lutando para mudar o que não condiz com as próprias necessidades. Ver as pessoas se apropriando das coisas e fazendo por elas mesmas o que o governo, o estado, as instituições e as grandes mídias não fazem e não vão fazer por elas já dá bastante alegria.

Polaroid - De onde veio a vontade de montar um coletivo? E porque um feminista? 
Ananda – O coletivo “Madalenas Assumidas” surgiu junto com mais duas amigas, a Susan Yamamoto e a Cristina Santos. Ideia veio à tona em uma conversa em que nós falávamos/questionávamos o papel e a postura da mulher hoje, tanto das passivas, omissas, que aceitam as coisas como estão, ou mesmo não conseguem se desvencilhar da opressão, das feministas, dos homens, enfim, da sociedade como um todo.
Então surgiu a vontade de elaborar algo não direcionado apenas para mulheres, apesar desse ser o tema principal, mas pra ambos os sexos, para fomentar a discussão e o questionamento sobre os rumos que essas relações entre os gêneros tomaram e ainda vão tomar. E principalmente mostrar que homens e mulheres não precisam ser combativos e viver nesse clima bélico que a gente tanto vê no dia-a-dia, na internet, e etc. Tem até aquela frase que diz “não é preciso ser anti-homem pra ser pró-mulher” que eu não sei de quem é, mas acho o máximo.
As pessoas ainda tem esse preconceito quando ouvem falar de feminismo, eles visualizam aquele monte de mulher que não se depila, de roupas largas, cabelos curtos e que detesta homem. Nada contra as mulheres que vivem assim, mas as pessoas também precisam aprender a enxergar a ação além dos estereótipos, entender porque existe essa luta.
Partindo daí a nossa ideia é divulgar conteúdo e fomentar ações que despertem a mulher dessa postura passiva e recriem seu próprio mundo, sejam protagonistas da própria história, sem medo de repressão ou do que os outros vão pensar. E também, que haja mais compreensão e cooperação entre os gêneros, menos conflitos, mais complemento. O “Madalenas Assumidas” ainda está em fase embrionária e por enquanto só alimentamos a página do Facebook com conteúdos diversos, mas em breve teremos novidades bacanas aí pra moçada. É só aguardar.

Polaroid - Qual sua opinião sobre a filosofia do "faça você mesmo"? 
Ananda – A filosofia do “faça você mesmo” é importante porque cada um de nós fazemos parte dessa sociedade que vivemos, portanto, se a realidade de hoje é insatisfatória, a responsabilidade é nossa. É fácil transferir a culpa, a responsabilidade para os políticos, por exemplo, enquanto eu estou sentado no sofá assistindo a novela das 9, ou compartilhando memes no Facebook. Maioria das pessoas se isenta, e prefere culpar os governantes, a indústria, a mídia ou seja lá quem for, e não estão errados, nós realmente somos oprimidos e manipulados pelo sistema, mas também somos omissos. Por isso de nada adianta só reclamar, é preciso ação e as pessoas precisam aprender a se enxergarem como parte desse todo e que são um fator de transformação desse meio.
Essa questão da pano pra manga (risos). Parafraseando um texto que li no blog do Selo uma vez: Não adianta esperar que o poder público desperte dessa apatia e comece a investir em cultura, por exemplo. Primeiro porque boa parte deles não têm, só querem mesmo é saber de dinheiro, e segundo porque não é interessante. Eles sabem o risco que correm se as pessoas começam a adquirir cultura, elas se tornariam cabeças pensantes, questionadoras e acabariam descobrindo que não precisam mais deles, como de fato não precisam. (risos) Daí é que vem a legitimidade do “Faça-Você-Mesmo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário